EGIPTO: precisa mesmo de uma nova capital?

21-06-2018

O General Al Sisi alcançou através de um golpe de Estado a presidência do Egipto em 2013, após ter derrubado Mohamed Morsi (anteriormente associado à Irmandade Muçulmana). Morsi, que foi o primeiro presidente eleito democraticamente,  nas suas palavras procurou ser o presidente de todos os egípcios, mas o que se verificou foi um constante agravamento das tensões políticas e das condições da população, consequentemente, as manifestações contra o poder instalado, voltaram a fazer parte do quotidiano.

Perante tal cenário e com a deterioração e antagonismo também a ser evidente com as Forças Armadas, Al Sisi acabou por se tornar o novo protagonista da política egípcia, tendo inclusivamente reforçado a sua legitimidade no passado mês de abril quando foi reeleito presidente com mais de 97%.

O poder militar instalado no Egipto acaba por ser um "déjà vu", tendo desta vez como personagem principal o general Sisi.

Os planos egípcios de construir uma nova capital a leste do Cairo, é no mínimo controverso. Esta nova capital, cujo nome ainda é inexistente, situar-se-á no meio do deserto entre o Suez e a cidade do Cairo (45 km).

A sua designação,  de momento é "a nova capital administrativa" do país e o seu projecto arrancou há pouco mais de 3 anos.

Os principais objectivos anunciados são:

-  a construção de uma cidade moderna que consiga abarcar entre 5 e 7 milhões de habitantes.

- Despovoar o Cairo que conta com mais de 20 milhões de habitantes e terá o dobro em 2050, caso nada seja feito. Associado ao superpovoamento do Cairo temos também as famosas e preocupantes questões ligadas ao alto nível de poluição e o congestionamento do trânsito.

- Ao nível das infraestruturas prevê-se a construção de hóteis, residências, um parque com o dobro do tamanho do Central Park, escolas, mesquitas, universidades, hospitais, um aeroporto, entre outras instalações.

- Todas as vertentes do  aparelho do estado deslocar-se-ão para a nova capital. Palácios presidenciais, embaixadas e as sedes do Parlamento e os 18 ministérios que compõem o Governo.

- A criação de emprego e a dinamização económica e comercial da região nordeste (Cairo - Suez).

Esta nova cidade  começou a ser construída em 2016 e deverá ocupar uma área de cerca de 700 km2, estando a deslocação do gabinete governamental previsto para junho de 2019. 

Deverá custar 45 biliões de dólares numa fase inicial, embora, presumivelmente, parte desse investimento seja recuperado por meio de vendas de propriedades e impostos corporativos. Para executar o projecto, o governo decidiu criar uma empresa chamada Nova Capital Administrativa para o Desenvolvimento Urbano (ACUD) que conta com 51 % pertencente às Forças Armadas e os restantes 49 % são do Ministério da Habitação.

Para além disso, observamos também a presença chinesa, desta vez, principalmente através da empresa pública China Fortune e de bancos chineses com o objectivo de trazer investimento e compromisso na construção de uma extensa área nessa região.

A ligação entre o Cairo e a nova capital também está a ser desenvolvida, prevendo-se como grande novidade a conexão entre as duas cidades através de uma linha de comboio de alta velocidade.

Tudo isto, a priori, parece ser um motor de desenvolvimento para o país, mas será que podemos contemplar este cenário de uma forma tão ligeira?   

O Egipto precisa  em primeiro lugar salvaguardar o bem estar dos seus cidadãos, e isso ainda está muito longe de ser alcançado. A questão é, quais são as prioridades de um país? 

O país atravessa uma grave crise económica. Precisou da ajuda do FMI e tem um défice de quase 11% do PIB.

Uma outra situação a considerar é o facto da construção desta cidade estar a ser efectuada  no meio do deserto  e isso vai implicar o gasto gigantesco de recursos hídricos. . Duas estações de água bombearão cerca de 200.000 metros cúbicos de água por dia, e como consequência absorverão a água das cidades satélites próximas. Quando o projecto estiver concluído, está previsto a utilização de cerca de 1,5 milhão de metros cúbicos de água por dia.

Quanto à diminuição do congestionamento rodoviário, isso não funciona simplesmente simplesmente com a transferência de alguns milhares de funcionários! Há poucas garantias de que o alto custo das residências permita que qualquer pessoa que não seja a elite ocupe a nova capital, e desta forma o projecto corre o risco de se tornar até lucrativo, mas vazio, semelhante às "cidades fantasmas"  que existem na China.  O Cairo já se encontra cercado por uma panóplia  de cidades que foram planeadas e estão meio vazias, o que constitui um enorme fracasso,  dado que não consegue  atrair a maior parte da população do centro da cidade.

Podemos descortinar alguns aspectos positivos, até porque se observa a criação de postos de trabalho designadamente no sector de construção, contudo, em virtude do país dos faraós ter passado por uma fase bastante periclitante, talvez haja situações bem mais importantes para  resolver e melhorar e que certamente serão bem mais prioritárias.


Omar Tchilombo - Senior Consultant



Miguel Verde - Senior Consultant
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